domingo, 15 de dezembro de 2013

Banzo


Não adianta acender outro cigarro
ou se encolher no sofá
esperando a noite chegar.
As estrelas estarão ausentes
enquanto os seus olhos não voltarem a
a provar o príncipio
ativo da noite.

Aquele lugar que parecia o seu
já não é mais que uma recordação adolescente.

Lá não há mais nada pra ver
a não ser os carros procurando rua pra andar
e rostos que não movem músculos
quando te veem passando
desorientado pelas calçadas.

As vozes não são familiares
nem os cantos convidativos –
nenhuma sensação digna
de um minuto a mais
de permanência.

O fim do mundo passou
e as árvores continuam sendo podadas.
As flores parecem confusas
com a mudança repentina
da extensão e data
das estações.

Mas estamos vivos ainda
e você espreme seu coração
e alma
a fim de verter
mais um verso,
que parece o último,
mas nunca será.

Os poemas jazem exaustos
de indiferença,
de tanta melancolia,
de hesitação,
de medo.
Não há poesia entre as quatro paredes desse cubículo suspenso
que sua covardia adotou como lar.

Passou o tempo em que você via fadas incandescentes
nas fagulhas das fogueiras
feitas nas noites frias de julho.
Seu violão reclama,
sente sua falta.
Nenhum acorde é capaz de traduzir sua necessidade de silêncio.

E eu finjo que entendo, que me conformo, fico quieto. Não sei se ainda existe alguma palavra pra te devolver a vontade
de visitar a vida,
de mergulhar
no milagre dos dias.

Só te peço:
mantenha
os olhos e ouvidos abertos,
pois enquanto as noites derem lugar aos dias,
haverá símbolos pra nos conduzirem
ao caminho
e à fórmula.

Ilustração: Diogo César, Mr Bread is confuse about the ways of his life

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