domingo, 16 de fevereiro de 2014

Pra lá de Bagdá

faz tempo não sabemos se é verdade o que vemos
se nos oferecem o antídoto ou só mais veneno
com o discernimento em coma
em redomas forjadas pela nossa paranoia
náufragos em mares de desespero
sem sinalizadores ou boias

não temos tempo pra nada
só temos esse olhar que se lança pra todo lado
menos pra olhar o outro

nunca temos o que queremos
já que sempre é muito pouco
só temos dados e dedos em dispositivos descartáveis

não lembramos mais pra onde vamos
pra onde (nos) levaram nossos planos
de desenvolvimento e progresso
tanta promessa
mas confessa
nada que impeça
o ceticismo
a desconfiança

tantos restaurantes monumentos bares baladas
e nada disfarça a palidez poluída da cidade

tantas plásticas salões de estética academias maquiagem
e nada sacia nossa vaidade

faz tempo não lembramos pra onde vamos
(pra) onde (nos) levaram nossos planos?
de qualquer maneira
aqui estamos
com a vista cansada
com o coração doído
nos divertindo mascando
cacos de vidro

enquanto isso toda noite a lua lá no alto
balança
e ameaça cair
(pra alegria dos editores-chefe
que já não sabem
o que publicar)