Sob a noite paulistana, quatro
jovens num carro. Talvez fosse a primeira vez que o motorista com seus não mais
de 18 anos punha os amigos no carro e saía sem a companhia dos pais.
No banco de trás, uma de suas amigas
riu quando viu a prostituta na rua. O menino ao seu lado sorriu, constrangido
(mas secretamente encantado pela pele exposta da prostituta).
Dentro do carro, todos riam, maravilhados com as
luzes, os semáforos, o escuro acolhedor e cúmplice agarrado ao asfalto, impregnando a paisagem.
Eles observavam e comentavam a noite -
acesos, encantados, entusiasmados, eufóricos,
com o gosto
de liberdade transbordando pelos olhos,
a boca de saliva
(e
a vida mais viva deles
me lembrou
meus
16).
Estávamos
em uma loja de camisetas na Augusta, escolhendo presentes. Ela percebeu que
eu não queria estar ali e perguntou se eu não queria esperar num bar.
Fui. Pedi uma água, acendi um
cigarro e me sentei numa mesa na calçada, vendo os que passavam.
Primeiro vi Peter Pan - a lésbica de
chapéu com pena, camisa xadrez e botas - e sua amiga. Subiam a rua conversando
sorridentes - com seus rostos angelicais, andróginos, lisos e peles de
pêssego que magnetizavam a luz dos postes.
Depois vi o bêbado com a garrafa de
Presidente, tropeçando no vento, falando sozinho e olhando maravilhado para o
carrinho de bebê passeando ao seu lado (tão encantado que quase tropeçou nos
sacos pretos de lixo cochilando nos pés do poste).
Por um momento não tive muito com o
que me distrair - até que vi na outra calçada duas adolescentes lésbicas
abraçadas e orgulhosas de seu amor na noite quente, confortável e receptiva da
Augusta. Quando atravessavam a rua, marmanjos roqueiros secando latas de cerveja barata riram dos beijos e
abraços delas (mas sem conseguirem disfarçar sua vontade de fazer parte daquilo).
E continuei ali até o cigarro e a
água acabarem e sob a luz dos postes voltei pra loja.
Ali, uma menina que falava inglês e
seu namorado estrangeiro se encantavam com as estampas descoladas das camisetas e a
atendente pequena, cheia de tatuagens e maquiagem, gastava seu inglês (que dizia ter aprendido com letras de música) tentando descrever as belezas do
Brasil
enquanto
lá fora
a
noite s/ lua
louca
e ansiosa
ainda
suspirava
pelos lábios
do sol.