domingo, 8 de setembro de 2013

Lirismo Noctívago 2 (Variação)

1.

            Sob a noite paulistana, quatro jovens num carro. Talvez fosse a primeira vez que o motorista com seus não mais de 18 anos punha os amigos no carro e saía sem a companhia dos pais.
            No banco de trás, uma de suas amigas riu quando viu a prostituta na rua. O menino ao seu lado sorriu, constrangido (mas secretamente encantado pela pele exposta da prostituta).
            Dentro do carro, todos riam, maravilhados com as luzes, os semáforos, o escuro acolhedor e cúmplice agarrado ao asfalto, impregnando a paisagem. 
             Eles observavam e comentavam a noite - 
            acesos, encantados, entusiasmados, eufóricos, 
            com o gosto de liberdade  transbordando pelos olhos, 
            enchendo
                         a boca de saliva
(e a vida mais viva deles
                                      me lembrou
                                               meus
                                               16).


2.

            Estávamos em uma loja de camisetas na Augusta, escolhendo presentes. Ela percebeu que eu não queria estar ali e perguntou se eu não queria esperar num bar.
            Fui. Pedi uma água, acendi um cigarro e me sentei numa mesa na calçada, vendo os que passavam.
            Primeiro vi Peter Pan - a lésbica de chapéu com pena, camisa xadrez e botas - e sua amiga. Subiam a rua conversando sorridentes - com seus rostos angelicais, andróginos, lisos e peles de pêssego que magnetizavam a luz dos postes.
            Depois vi o bêbado com a garrafa de Presidente, tropeçando no vento, falando sozinho e olhando maravilhado para o carrinho de bebê passeando ao seu lado (tão encantado que quase tropeçou nos sacos pretos de lixo cochilando nos pés do poste).
            Por um momento não tive muito com o que me distrair - até que vi na outra calçada duas adolescentes lésbicas abraçadas e orgulhosas de seu amor na noite quente, confortável e receptiva da Augusta. Quando atravessavam a rua, marmanjos roqueiros secando latas de cerveja barata riram dos beijos e abraços delas (mas sem conseguirem disfarçar sua vontade de fazer parte daquilo).
            E continuei ali até o cigarro e a água acabarem e sob a luz dos postes voltei pra loja.
            Ali, uma menina que falava inglês e seu namorado estrangeiro se encantavam com as estampas descoladas das camisetas e a atendente pequena, cheia de tatuagens e maquiagem, gastava seu inglês (que dizia ter aprendido com letras de música) tentando descrever as belezas do Brasil

enquanto lá fora
a noite s/ lua
                        louca
            e ansiosa
                                    ainda suspirava
                                    pelos lábios
                                    do sol.

Um comentário:

  1. Sempre muito visual amor... consigo me transportar para o cenário e visualizar toda a cena.
    Me levou aos meus 16 tb...
    Saudades da noite! Saudade de ter o que observar, saudade....

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