domingo, 30 de junho de 2013

Tentativa de descrever um fim


"It hurts to set you free
But you'll never follow me
The end of laughter and soft lies"

Jim Morrison, "The End"

1.


dizem que o fim é sempre o destino do começo
já ouvimos isso
sentimos antes mesmo de saber
não sabemos se adianta despedida
ou se o silêncio é o melhor adeus

me intriga
também me aflige
o que o momento exige
por mais que se diga
nada pode ser feito
nem adianta agitar
as cinzas no peito
pra ver se voltam a virar fogo 

nenhum de nós quer
desatar o nó que nos liga
mas não há mais lugar pra mim na sua vida
não há motivos pra que você divida sua vida comigo

imprecisos
indecisos
tropeçamos em promessas pra beijar a lona

e nos libertamos um do outro
pra que cada um tenha
sua própria alma
seu próprio corpo


2.

plantamos loucura
   esperando colher paz
      mas a primavera não foi
           o que a gente esperava

                          - nada mais do que a visão
                                   do tempo consumindo anseios
                                         como se fosse fogo em madeira seca
                            deixada no porão
              de existências desperdiçadas


3.

pequenos demais pra sustentar asas
covardes demais pra sustentar o desejo
de um paraíso de confetes
e céus de um azul 
inabalável

4.

e quando a noite termina
enfrentamos a fragilidade
do nosso império
de migalhas
 nossas falhas e fraquezas
 reveladas
publicadas
expostas
sob a luz de 
holofotes -
ao alcance da vista
de qualquer um disposto a rir
do fracasso
dos sonhos



domingo, 23 de junho de 2013

A noite chegou ao fim


"Some are born to sweet delight 
Some are born to the endless night "
William Blake/ Jim Morrison, "End of the night"


a noite chegou ao fim
o dia ainda não veio

o copo vazio
o cinzeiro cheio

a noite chegou ao fim
o dia ainda não veio

o tempo sem freio
o coração ao meio

dos sorrisos e do prazer
só mesmo rastros
nossa redoma
de conforto e devaneio
reduzida a uma poça de cacos

a noite chegou ao fim
mas o escuro continua

mesmo que a língua luminosa do sol
já tenha começado a lubrificar 
a tristeza arisca da rua

domingo, 2 de junho de 2013

No lado mais escuro do teu horizonte

procuro no teu escuro
um esconderijo
persigo um abrigo
nesse mundo
onde misturo
tua agonia com teu êxtase

teus gemidos dão sentido pra noite
de um jeito
que mesmo assim cego
te levo
pra onde quer que o prazer aponte
curioso e ansioso
pelo sol que só brilha
no lado mais escuro do teu horizonte