domingo, 28 de julho de 2013

Beleza Covarde



o rosto o corpo a postura
os olhos o cabelo a pele

ela é linda

o que estraga é sua expressão
de quem tem medo da vida

Ilustração: Diogo César, Scissors Eyes

domingo, 21 de julho de 2013

domingo, 14 de julho de 2013

Lirismo Noctívago


vento seco

duas adolescentes 
magras
barriga de fora
atravessam a avenida
                        suas coxas e umbigos inspiram buzinas
elas xingam
            e apressadas
                        alcançam
                                    a calçada

a tarde termina com as filas de carros
as bicicletas e os que voltam do trabalho
cachorros esparramados pelo meio-fio
balançando as orelhas ao som dos
motores  - seus olhos flutuando calmamente
ao ritmo dos carros e dos motoristas
de almas mutiladas

contrariando a velocidade destes tempos
a noite
c         
a         
i

l                      
e                     
n                     
t                     
a
m e n t e         

                                    a lua vela 
o sol 
morrendo de frio
agonizando
sem luz
sem eletricidade
úmido no parapeito

a poeira rasteja de encontro ao vento

a noite 
apresenta patas pegajosas
                 se derrama gelada pelo para-brisa
                                   semeando tragédias delicadas

ao longo da avenida
os rostos miram o asfalto fosco e triste

pelo açougue desativado
os casais adolescentes
compartilham 
seus cigarros
       garrafas de vinho
            lábios e genitais
(pela calçada
seus cadarços desenham as partituras da música mais elétrica que a noite já tocou)

círculos de pedra lâminas lágrimas 
em silêncio tenso 
enquanto 
a noite 
devora as luzes 
e lambe as lágrimas dos postes

dois gays
conversam no portão
de uma casa

espantalhos maquiados oferecem felação em esquinas decoradas para o Natal

duas lésbicas voltam juntas para casa
carregando sobre os ombros 
o escuro da noite 
e o peso dos próprios lábios

a noite umedece as paredes
até a madrugada escorrer pelas calhas
se esparramar nos parapeitos
e arder nas pupilas
(tatuando pequenos lamentos na palma da mão)



Ilustração: Diogo César, Crying Songs and Tears

domingo, 7 de julho de 2013

Outra tentativa de descrever um fim


dormimos no começo do século 
acordamos no fim do mundo 

a voz da confiança que nos acompanhava se ausentou - 
foi cumprir outros compromissos

nada de porres ou gritos
nem remédio nem guarda-sóis - 
só o silêncio 
a inércia
                                 
o carro ainda tá na garagem
mas agora à alma 
falta a coragem 
o agito 
o aditivo

asas com cãibra 
                   pó poeira poesia 
                                 desejo de deitar no colo da 
                                                                     Beleza

e o que veem agora os que te olham?
cansaço tristeza
ou só um par de olhos
que por teimosia não se molham?

façamos um brinde às existências dolorosas e doloridas 
um brinde à periferia eternamente esquecida 
um brinde à nossa persistente falta de perspectivas

a lua não brilha
a rua tá escura
mas a procura continua
até o nascer do dia

GOOD LUCK!
                         BUENA SUERTE!
e continuemos 
fingindo 
crescer 
(mesmo que entre espinhos)