domingo, 27 de outubro de 2013

Sol negro tampado pela peneira do desenvolvimento

a maioria não tem voz
a vez da minoria vigora
sem vazão da visão coletiva
violência vandalismo multidão tumulto
protesto do jeito permitido parece grito para ouvidos surdos

atados ao terror
tentados por trilhões de tendências
tentamos transitar pelo tráfego
enquanto o mundo simula uma mania de mudança

esse escuro é impermeável à luz
o néon não é capaz de iluminar nosso escuro
feche os olhos para o presente devastado
e veja o deserto do futuro

corte o cabelo
faça a barba
te querem de terno e gravata
gerando lucro
aspirando pela nata

já não falamos em línguas
nos comunicamos em código binário
se fez tanto
mas continuamos divididos
entre pobres e ricos
espertos e otários

espermatozoides e óvulos
em laboratórios
em reservatórios
onde a vida é concebida
segundo critérios eugênicos

enquanto aqui fora se confunde farinha de trigo com arsênico

você diz que nunca vivemos tão bem
que sou retrógrado
e não enxergo além
e se queixa de que a conexão caiu sem mais nem menos
eu espero que o céu desabe
não em chuva orvalho sereno ou lágrimas
mas em antídoto

pra esse veneno com que convivemos

domingo, 20 de outubro de 2013

A gente

a gente era tudo o que a gente tinha
a gente amava o silêncio
                        e a saliência entre o abismo e o paraíso
                        a tristeza e o conforto
                        que existia no sorriso
                                    um do outro

                        nossos passos percorriam
                                                           a mesma linha

                        eu        vendo o que   você    via
                        você     vindo              eu        vinha
                                                                       minha vida sua
                                                                       sua       vida minha

mas o que era tanto e bom
            se tornou ruim e pouco
                        começamos com “era uma vez”
                                                        mas o final foi outro

domingo, 13 de outubro de 2013

Balas de Borracha


um protesto pacífico
a democracia admite
manifestar o pensamento 
direito constitucional 
mas isso o homem de farda nunca acha
ele obedece ordens
não bastava o cassetete que racha?
então lá iam
balas de borracha

                                            corrente cerco bloqueio bloco
batidas no escudo tentando intimidar
rastros de fumaça intoxicando o ar
homens sem moral atirando bombas de efeito moral
lacrimogênio irritando a vista
não bastava o cassetete que racha?
então lá iam
balas de borracha


mas não adiantou
não vingou
não foi na faixa
nunca é
mas a história das conquistas retoma sua marcha -
dessa vez com linhas escritas
com hematomas
de balas de borracha


Imagem: Diogo César, Bullet in the head